segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Uma coisa é saúde, outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é a auto-imagem. Religião, é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação.
Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem.
Gordura é pecado mortal, ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer, não. Estria é caso de polícia, celulite é falta de educação. Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso.
A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem?
A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem. Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa, não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa.
Não importa o outro, o coletivo. Jovens não têm mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada. [...]
Que todos acordem, que o mundo mude. Que eu me acalme, que o amor sobreviva."

[Herbert Vianna]

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"Diálogo"

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

Rita Apoena.

domingo, 2 de novembro de 2008

Meu paizinho


Cheguei tarde ontem, e sei, que se você ainda estivesse aqui, estaria me esperando, olhando a chuva cair. Sei também que a distância que nos separa hoje, é muito grande, mas tenho certeza de que não será eterna. Hoje a tarde eu sonhei com você. Tinha os olhos abertos, e da boca logo saía aquela palavra rude, onde só eu via graça. É tão difícil falar de você. Ainda me lembro como se fosse ontem, o seu cheiro, a sua voz... ela não me sai da cabeça. As suas frases chavões, seu jeito lindo de pedir calma quando eu estava muito eufórica... sua jeito de rir "quicando", sua mão no rosto toda vez que ia contar um caso - e eram sempre os mesmos. Você ficava muito bravo quando eu e Carol fazíamos concursos de arrotos, e quando algum vizinho ouvia, a gente colocava a culpa em você. Você é tão lindo, e eu sinto tanto não poder te dar um abraço enorme hoje, e pedir que me cantasse aquela música da delegacia que é a maior comédia. Saudade dói tanto... mas essas lágrimas de hoje não são de tristeza, não. Eu sei que você está bem, não está? Eu nunca vou me esquecer de você, e principalmente dos últimos nove meses ao seu lado. Me desculpe alguma coisa, talvez eu pudesse ter ficado mais ao teu lado, ter ouvido mais uma vez aquela história, aquela música, ter respondido mais uma vez aquela pergunta, segurado mais uma vez sua mão quando a dor era insuportável. Deus me deu você, mas me tirou tão rápido. Acho que ele ficou com ciúmes, devia gostar muito de você.
Obrigada por ter vivido pra mim. Um dia ainda nos encontraremos. Deus com certeza cuida melhor de você.
"Eu também te amo muito", lembra?

Da sua primeira filha, que te ama primeiro,
Bia.

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